Mensalmente nosso blog oferecerá um prêmio a melhor e a pior descoberta gourmande avaliada naquele mês. Os prêmios serão denominados de Le Grand Prix Chocolat Caramelisé, para a melhor; e Le Prix Fétide Fromage Munster, para a pior. A escolha dos nomes dos prêmios se deve às nossas primeiras experiências culinárias na França. Enquanto o Chocolat Caramelisé nos traz boas recordações, o queijo Munster quase abalou nosso pique-nique de despedida da cidade de Vichy e nos causa traumas até os dias de hoje.
Começo hoje por descrever as impressões sobre o queijo Munster.
Le Fromage Munster
O queijo Munster é proveniente do leste da França, sendo sua denominação protegida desde 1969 nacionalmente e desde 1996 pela União Européia. Fato este que já me indigna porque não é a denominação deste queijo que deve ser protegida, mas sim devia-se proteger as pessoas de comê-lo.
Bom, este queijo entrou em nossas vidas no último dia de nossa permanência em Vichy. Íamos fazer um pique-nique de despedida e eu tive a excelente idéia de contribuir com alguns queijos diferentes que eu encontrasse no feirão de queijos do supermercado Casino.
Eis que no mercado me deparo com diversos queijos e, como é de minha personalidade de indeciso, fiquei em dúvida do que comprar. Assim, como acontece de praxe à todos que não conhecem um produto, decidi comprar os queijos pela aparência da embalagem e as informações descritas nela.
Observando os queijos, todos eram de coloração mais branca, enquanto o queijo Munster me chamava atenção pela sua coloração mais amarelada/alaranjada. Além disso, gostei da embalagem do queijo, havia um desenho que tornava o produto "simpático". Por causa disso, durante minha escolha cheguei a trocar várias vezes um queijo por outro na indecisão de comprá-los, mas sempre mantinha em minha mão o bendito Munster. Pensava eu: "Este queijo não tem como dar errado!"
Aí está um erro que todo mundo comete e que levou a criação do famoso ditado "Não julgue um livro pela capa". Apesar de ser difícil comprar algo que não se conhece sem ser através da embalagem, eu faço um alerta para nossos leitores: "Não julgue um queijo pela embalagem!".
Como muito tempo se passou desde a tortura da degustação do queijo, não lembrava mais da marca do produto e tive de vasculhar a internet em busca de uma foto da embalagem do produto. Foi um erro meu não ter tirado uma foto, visto que seria de grande utilidade pública divulgar a embalagem do produto para que NÃO o comprem. A única foto que encontrei é pequena e de um queijo similar. Mas felizmente fui salvo pela Marília que havia tirado fotos do queijo no dia de nosso pique-nique.
Observando a embalagem agora, acho que eu estava bêbado ou tinha tomado drogas alucinóginas na hora que comprei e pensei que seria um bom queijo. Primeiro porque o queijo é do tipo Munster, o que lembra Monster - monstro em inglês. Segundo porque a marca do produto é Les Trois Sapins (Os Três Pinheiros, em francês), lembrando a palavra "sapinhos" em português.
Enfim, comprei o queijo. Agora não tinha mais volta.
Chega o momento do pique-nique. Todos levaram seus produtos para o gramado em frente a nossa escola de francês em Vichy, o CAVILAM. Levei três queijos que tinha comprado no mercado. O primeiro que escolhi para degustar, devido às razões anteriores, foi o Munster.
Chega o momento da prova do queijo. A primeira reação foi o cheiro do queijo ao cortá-lo. Cheiro este que não senti no momento da compra do queijo e que podia certamente afastá-lo de mim. Era um cheiro de enxofre podre. Parecia que todos excrementos de cachorro presentes na calçadas de Vichy haviam unido forças para expelir um cheiro fétido insuportável. Isso já me causou uma certa repulsão pelo alimento, mas não sou uma pessoa de desprezar desafios culinários: tinha que o comer.
O meu espanto e um pouco do cheiro que vagava no ar no momento chamou a atenção de todos. Todos ficaram atentos ao momento que eu fui comê-lo. Respirei fundo e comi. Parecia que todo o cheiro fétido insuportável tinha se transformado em sabor e começado a invadir e trucidar minhas papilas gustativas. Enquanto comia fiz uma careta horrível de desgosto, o que fez com que todos percebessem o meu ódio pelo produto.
Apesar disso, vários se propuseram a provar. Prepararam até câmeras pra filmar/fotografar a reação de quem comia. Durante a degustação de todos, às vezes, uma rajada de ar me trazia o cheiro fétido do queijo, me deixando enojado e surpreso com a coragem dos outros e a minha própria ao experimentá-lo. Mas eu fiquei mais surpreso ainda, ou melhor, estupefato e de queixo caído, quando a Renata degustou e disse que gostou do queijo. A explicação? Exceções, ou melhor, milagres acontecem.
Após nosso pique-nique, o queijo foi doado para a Renata que, como dito, foi a única que gostou do mesmo.
Por fim, eu tenho duas considerações a dizer sobre o queijo Munster. A primeira é que ele não deve ser oferecido ao seu pior inimigo. E a segunda: cuidado ao acender um fósforo próximo a ele que talvez ele exploda!!!
Assim, pelo seu poder fétido e destruidor de papilas gustativas, o queijo Munster foi escolhido para o nome do prêmio de pior dica gourmande do mês: Le Prix Fétide Fromage Munster.
P.S.: Ao escrever este texto procurei na internet a procedência do nome "Munster" e descobri que vem da palavra "monastère", monastério em francês. Acho que os monges que habitavam esses monastérios deviam pagar pecados comendo esse queijo. :D
A descoberta sobre o nome foi a melhor, kkkkkk
ResponderExcluirtem algum lugar onde voces viram esse queijo no brasil? em SP? Estou fazendo um trabalho sobre Alsace, o lugar onde eles produzem ele mas nao estou consiguindo achar ele.. por favor.. me ajudem com isto.
ResponderExcluirOi Cindy, ainda não voltamos ao Brasil, então não sabemos se esse queijo existe no Brasil. Mas ele não me parece tipo "exportação", muito menos para o Brasil, pois acho que não teria público. É um queijo extremamente forte e amargo.
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