Antes mesmo de o Marcelo dar ideia de fazer este blog, eu já fazia cliques das delícias que provava na França e, por isso, tenho vários posts na gaveta semi-prontos para serem publicados.
Quando as pessoas vêem meus albuns de viagem, não entendem essa minha forte tara por fotos de comida, e costumam dizer que eu comi demais na minha jornada além-mar. Já tenho resposta pronta pra esse tipo de comentário invejoso das minhas gulodices: eu tomo café, almoço e janto igual a você, só que eu tiro foto e você não! Ehehehehe E digo mais: para mim, há muito tempo, investir em uma boa refeição - uma experiência gastronômica, melhor dizendo - é tão importante quanto visitar monumentos. E olha que eu sou arquiteta (tudo bem, uma arquiteta amante da gastronomia).
Mas indo direto ao ponto, quando eu provei o Delischuss do Casino lá em Vichy, eu tive que me segurar pra não comer tudo antes de tirar a foto. E reparem que as fotos estão péssimas, o que comprova minha pressa para devorá-los.
Em poucas palavras: é um dos melhores biscoito que eu já provei aqui (e quem sabem na vida!). Mas eu até já desconfiava. O Casino não faz caixas pretas para qualquer produto. Podem reparar: quando a caixa é preta, é VIP (very important products). O preço também faz jus a sua distinção - em torno de 2 euros e pouco - mas eu pago sem dor nem piedade.
Mas como ele é? São biscoitinhos redondos, sendo um dos lados coberto por chocolate suiço e outro por um negócio ultra crocante que eu não sei o que é. Talvez sejam amêndoas ou então farelos minúsculos de casquinha de sorvete. Já não me lembro mais. Por dentro, uma camada fina de recheio marrom claro tipo mousse entre duas bandas de biscoito ultra leve que faz croc-croc. Bref, um biscoito que quer ser chocolate.
Alguma dúvida que vale 5 estrelas?
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Le Chocolat Caramelisé
No meu post anterior tive de enfrentar um
trauma escrevendo e lembrando do sofrimento causado pelo queijo Munster e como
ele foi escolhido o nome do prêmio de pior descoberta gourmande do mês. Agora
contarei como o Chocolat Caramelisé (chocolate caramelizado, em português) se
tornou um dos melhores momentos vividos no primeiro mês de nossa estadia na
França e, por isso, é o nome do prêmio de melhor descoberta do mês.
Antes de começar, preciso contar um pouco
sobre a cidade de Vichy.
Bem no centro da cidade de Vichy se situa o
parque/praça principal da cidade chamado de Parc de Sources. Este parque abriga
a Ópera, o Hall de Sources (onde pode-se provar de todas águas minerais da
cidade) e é onde acontece a maioria das manifestações culturais abertas ao público
da cidade. Além disso, em um canto do Parc de Sources se situa o bar mais
frequentado de Vichy: La Galerie.
"La Galerie" é um dos únicos bares
da cidade (pelo que sei, o único :P ) com música ao vivo para um público mais
jovem. Quase todos os dias de nossa estadia em Vichy havia um show no fim da
tarde. Os shows eram realizados em um palco ao ar livre, de frente para as
mesas que se distribuíam sobre o canto do parque, próximo ao Hall de Sources.
Dentro do bar há uma pista de dança onde, quase sempre, se realizavam as
soirées (festas) semanais da nossa escola de francês. Assim, sempre que eu
podia e quando não havia outra atividade, eu passava no La Galerie.
Em um certo dia fui ao bar para ver quem eu
encontrava. Como a cidade era pequena e, no período do verão, repleta de
estudantes da escola, sempre que eu ia ao bar, eu encontrava um conhecido.
Neste dia cheguei lá e encontrei minha colega de turma italiana, a Lorenza;
duas amigas de Israel, a Lilia e a Natalie; e um brasileiro, o Matheus. Sentei
na mesa com eles para conversar e tomar uma cerveja. O show do fim de tarde não
havia começado ainda. Sobre o palco se via os instrumentos preparados para o
show: somente tambores.
Depois de pouco tempo começou o show. Era um
grupo formado por africanos que batucavam tambores em uma mistura de timbalada
e batuque de religiões afro-brasileiras. No início eu estava indiferente ao
show e até um pouco incomodado, visto que a conversa estava boa e o som do show
dificultava minha compreensão do francês.
Em um momento os integrantes chamaram pessoas
pra dançar. De início ninguém foi. O Matheus então se levantou e nos chamou pra
ir em direção ao palco. Fui o primeiro a ir atrás e ajudei a convencer as
outras a irem também.
Já na frente do palco com todos os outros,
começamos a dançar timidamente. Mas pouco tempo depois, o Matheus já tinha se
enturmado com a banda, começando a cantar em cima do palco junto com os
integrantes. Neste momento me empolguei também. Gosto de batucada e desse tipo
de música, mas até então não tinha entrado no clima. Foi então que encarnei um
espírito africano. Me senti em um ritual de umbanda como se fosse um pai de
santo possuído pela pomba-gira ou então em uma cidade africana como um
guerreiro de uma tribo fazendo a dança do criolo doido. Utilizei todo meu
gingado e malemolência pra dançar como nunca dancei na minha vida.
A animação tomou conta do ambiente. Algumas
pessoas que nos olhavam sentadas nas mesas levantaram-se e foram se juntar a
nós na nossa dança. Vendo isso, um dos integrantes da banda foi para a beirada
do palco para ensinar uma coreografia que lembramos e dançamos até hoje. A
coreografia ajudou a aumentar ainda mais a animação e fez com que todo mundo se
empolgasse e caísse na gandaia. Foi aí que um dos integrantes da banda,
elogiando o público, gritou do alto do palco: "VOUS ÊTES TOUS CHOCOLATS
CARAMELISÉS!!!" (Vocês todos são chocolates caramelizados!!!)
A
reação foi uma mistura de êxtase, empolgação e risos.
Depois disso tocaram versões de batucada
misturadas com o refrão de "Seven Nation Army", do "Rap das
Armas" e outras. E com isso a animação se perpetuou até o fim.
Terminado o show, os integrantes da banda nos
agradeceram pela participação, que acabou incentivando outras pessoas a também
participarem. Agradeceram principalmente ao Matheus que os ajudou na cantoria e
elogiaram minha dança fenomenal. :-) Conversamos com eles mais um pouco e nos
disseram que no dia seguinte teria outro show, mais uma vez no La Galerie.
No dia seguinte pela manhã contei empolgado
aos brasileiros do CAPES/COFECUB sobre o show, principalmente sobre o
"chocolat caramelisé". Disse à eles que deveriam ir no show que ia
ocorrer mais tarde naquele dia, pois seria animação garantida.
A grande parte de quem convidei foi ao show:
a Marília, a Carolina, a Melina e a Daniela. O show foi tão bom quanto o da
noite anterior, com direito a coreografias, mais gritos de "chocolat
caramelisé" e músicas diferentes. Com isso, eu continuava na
empolgação para dançar com todo meu requebrado e desenvoltura dignos de um
Michael Jackson com ataque epiléptico, que nem eu nem ninguém sabem
explicar.
A música que mais empolgou neste show e que
cantamos até hoje é:
"O-le-lê O-la-lá,
On est fatigué,
On est toujours là".
O que traduzindo quer dizer que apesar
de cansados, continuamos lá.
Após o show conversamos por um bom tempo com
os integrantes da banda. Eles nos
contaram que a maior parte deles vieram do Senegal e já estavam há tempos na
França fazendo shows. Entre os mais simpáticos da banda estava o Armaaaniii
(com 3 "a" e 3 "i"). Ele nos falou que a origem deste nome
artístico se deve aos tempos em que vendia óculos Giorgio Armani pela Europa.
Também me confidenciou que gostou muito de uma das brasileiras de nosso grupo,
o qual o nome não posso revelar. :P
Durante a conversa eles se empolgaram e para
celebrar a amizade conosco, propuseram de tocar novamente para nós. Fomos para
dentro do bar e tivemos um show exclusivo até o momento do fechamento do bar.
Depois disso, trocamos contato com os
integrantes da banda. O Matheus, que foi o que mais participou dos shows com
sua cantoria, trocou telefones com eles e ligava (e acho que ainda liga) para
eles de vez em quando. Através disso, um dia encontramos com eles mais uma vez
em Vichy. Eles estavam voltando de um show e passaram por um dos parques da
cidade onde fazíamos um pique-nique e nos ofereceram refrigerante e cervejas,
além de uma ótima conversa.
Falar "chocolat caramelisé", após a
nossa amizade com a banda se tornou usual entre nós durante o resto da estadia
em Vichy.
Em um certo dia no supermercado encontrei alguns
biscoitos que diziam na embalagem conter “chocolat et caramel”. Tive que os
comprar.
Levei os biscoitos para alguns dos nossos
encontros, como em nosso pique-nique de despedida de Vichy, com os quais brindamos
nossa amizade. Sim! Brindamos como quando fazemos com copos de champagne em
festas.
Ao provar os biscoitos, o gosto era bom, nada
de excepcional. Se tratava de um biscoito de maizena coberto com uma camada de
chocolate recheado com caramelo.
Mas não era somente o gosto que importava nestes
biscoitos. Era o conceito de ser “chocolat caramelisé” que, para nós, era
sinônimo de alegria, diversão e principalmente de união e amizade. União entre
pessoas de diversas nacionalidades, regiões, cidades que encontramos em Vichy.
Amizade que fizemos com estas pessoas e que, caso não se perpetue através do
contato e aproximação, ficará guardada em parte na nossa memória e coração ao
lembrarmos dos momentos de alegria e diversão que compartilhamos.
É por isso que a melhor descoberta gourmande
do mês receberá o prêmio de Le Grand Prix Chocolat Caramelisé.
P.S.: Para vocês que aguentaram e leram todo
este texto: "Vous êtes tous chocolats caramélisés!!!!" "
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